segunda-feira, 7 de abril de 2008

HISTÓRIAS...

Carlos e Andréia eram grandes amigos, e certo dia resolveram fazer um curso de teatro. Ele tinha passado algumas tragédias em sua vida, e esse curso era uma forma de tentar reanimar sua vida, que há alguns anos andava meio vazia e pacata.

Passado algumas semanas depois de começar o curso, Andréia conta a Carlos que traria uma amiga sua para o curso também. Ela tinha depressão e tentou até suicidar-se, mas agora estava tentando dar a volta por cima. “Bah, eu passei por dramas e nunca nem pensei em suicídio, se essa guria já tentou isso deve ser aquelas garotas super pra baixo, baixo astral, mimadas, que não se valorizam e não deve ter nenhum amigo também” pensou Carlos, mas não comenta nada com sua amiga.

Na outra semana Andréia chega acompanhada de sua amiga Caroline. Para surpresa de todos, e, principalmente, de Carlos, a garota é extremamente alegre, descontraída e exuberantemente linda. A espontaneidade da garota conquista a todos do curso, e, diferentemente das previsões dele, Carol, como todos passaram a chamá-la, logo se enturmou e fez amizade com todos.

Carlos pergunta a Andréia se aquela era realmente a amiga que ela tinha se referido, pois não podia acreditar que uma garota “descolada” como aquela poderia ter alguma depressão. Porém Andréia lhe adverte que é a menina que ela falou sim, mas era para ele não se enganar com as aparências, pois apesar dela passar essa imagem de bem com a vida aquilo era só uma máscara, uma fuga da realidade, pois quando estava sozinha ela era triste e deprimida. Ele aceitou a explicação da amiga, mas era difícil de acreditar.

Na semana seguinte novamente estava a turma de teatro reunida, e Carlos cada vez se impressionando mais com a simpatia da garota. Ficou impressionado, pois na sua segunda aula ela já era popular e amiga de todos da turma, enquanto ele, que nem tímido era, estava há algumas semanas e tinha feito pouco mais de quatro ou cinco amizades. Naquele dia foi escolhida uma peça que o grupo representaria, e Carlos acabou com um personagem que fazia par com Carol, fato esse que lhe deixou imensamente feliz.

Mas nos ensaios o rapaz se sai mal, ao contrário de Carol, que recebeu vários elogios. Após os ensaios Andréia convida Carlos para ir com ela e mais Carol num barzinho, ao que ele topa. No local as garotas pedem refrigerantes enquanto Carlos pede uma cerveja, ele estranha o fato de sua amiga Andréia pedir a bebida, sabendo que ela gosta muito de uma cerveja, mas resolve não comentar nada sobre o assunto, pois certamente ela não estava bebendo por causa da companhia da Carol.

No meio da conversa eles falam sobre o curso, e como ele se saiu mal, ao que Carol se dispõe a ajudar o novo amigo, pois percebe que ele tem dificuldade de se soltar em cena e de decorar as falas. Claro que ele aceita a ajuda na hora, e fica super contente com o convite. Andréia, que conhecia muito bem os dois começa a analisá-los, e começa a perceber que repentinamente começa a surgir um clima entre os dois, o que a deixava feliz, pois adorava ambos, e sabia que eles tinham um passado difícil, e se acontecesse uma relação entre eles, um poderia ajudar ao outro.

Após alguns ensaios Carlos já estava se saindo muito melhor, reflexo das ajudas da garota. Aos poucos ia surgindo um sentimento por aquela mulher. A princípio ele tentou relutar contra isso, tendo em vista seus traumas antigos, mas aquilo era mais forte que ele. Confessou a Andréia, que já suspeitava. Relatou a amiga que tinha medo, pois talvez estivesse se enganando, pois ela nunca demonstrara se estava sentindo algo ou não, que ela era simpática com todo mundo e ele poderia estar confundindo as coisas, e estragaria uma amizade muito legal que crescia cada vez mais. Andréia respondeu que só o que ela poderia fazer era motivá-lo a ir em frente e declarar a Carolina sobre seus sentimentos, ao que Carlos recusa, ao menos temporariamente.

A cada ensaio a dúvida do sentimento se dispersava cada vez mais. Só o que restava saber era se aquela atração era recíproca ou não. Ela era gentil, carinhosa, atenciosa com todos, será q ele não estava levando as coisas para um lado errado? Mas como Andréia lhe dizia não adiantava ficar se remoendo em dúvidas, só tinha uma maneira de resolver essa questão. Mas ele adiava a decisão de declarar-se.

As semanas passaram-se e chegava a data da apresentação, e conseqüentemente o fim do curso. Andréia pressiona Carlos para declarar-se logo, antes que apareça outro cara e fique com ela. Ele então resolve: Depois da apresentação, numa festinha que eles fariam, ele declararia seu amor!

Na véspera da apresentação foi feito o último ensaio, e após todos foram para um barzinho. Tudo corria normalmente, mas Andréia chama Carlos de canto e lhe diz que estava preocupada, pois Carol parecia estar diferente naquela noite. Ele comenta que não reparou nada, ela parece estar como sempre, pois estava sempre rindo e alegrando a todos, dançando e, como sempre, maravilhosamente linda. Mas Andréia diz:
- Não sei, seu sorriso está estranho, parece lhe ferir!
Carlos acha estranho o que Andréia diz, mas ela se preocupa demais, sempre vê alguma coisa onde não existe nada. Ela concorda, pode ser, mas o pressiona para declarar-se naquela noite, para que esperar mais um dia? Mas ele resiste, amanhã vai ser o dia !

Chega o dia da apresentação, finalmente. Carlos está lá, nervosíssimo. A maioria do elenco já está no teatro, mas nem sinal da carol. Ele liga para Andréia, que já estava a caminho e pede pra ela passar no apartamento da Carol, senão ela iria se atrasar. Andréia tenta inutilmente ligar para o celular da amiga, e vai até a casa dela.

Mais demora, Carlos já não se agüenta mais. Nem era pela apresentação seu nervosismo, mais por ser o dia de declarar seu amor! Já sofrera tanto nessa vida, relembrou seus pais assassinados na sua frente quando ainda era uma criança, sua noiva que tanto amava, e que morreu num terrível acidente de trânsito causado por um imbecil alcoolizado filhinho de papai que saía de uma festa. Mas depois de muitos anos voltara a se apaixonar, seu coração parecia ter se acalmado novamente e se entregue ao amor de uma linda mulher. Hoje seria o dia de um recomeço, de uma volta a vida.

Carlos olha para a entrada do teatro e vê Andréia, em lágrimas. Mas ele nem percebe isso, só pensa em Carol:
-E aí, cadê a Carol?? Olha a hora, estamos atrasados !!! Se ela não vier eu mato ela...
-Você não vai precisar matá-la, ela já fez isso! Ela suicidou-se!
Ele olha para sua amiga incrédulo, e mesmo entendendo o que ela disse pergunta:
-O quê? Como assim “suicidou-se”?? O que tu queres dizer??
- Exatamente o que eu disse, suicidou-se!!! Dizia, aos prantos.
-Mas como? Quando ? Porque ?
-Ninguém sabe por quê. Fui no apartamento dela agora e a encontrei lá...

Carlos explode em lágrimas, seu coração parece querer saltar de seu peito.
-Alguém matou ela! Foi o ex dela, aquele...
-Ninguém a matou, Carlos, ela própria tirou-lhe a vida! Cortou os pulsos...

Aquelas palavras, aqueles fatos, eram navalhas que atravessavam seu corpo, trituravam seu coração. Não sabia o que pensar, o que fazer, o que dizer. Só sentia uma dor torrencial em seu peito. O mundo parecia lhe desabar sobre a cabeça naquele momento. Outra vez a tragédia lhe batia a porta, lhe visitava. Arrependia-se de tudo o que não fez. Execrava-se a si mesmo. Que diabólica maldição trazia consigo, que fazia com que as pessoas que ele amava viessem a morrer?

-A culpa é minha, Andréia!-dizia a sua amiga. – Se eu tivesse dito a ela...talvez...
-Ninguém é culpado, Carlos! Ninguém sabe nem nunca saberá o que se passou na sua cabeça, o que estava sentindo, do que estava fugindo...
-Como pode?? Ela sempre rindo, sempre alegre, sempre feliz?
-Lembra do que eu te disse? Essa alegria dela era só um escudo para se proteger do mundo e de si mesma. Era uma defesa dela mesma! Eu pensei que ela tinha melhorado, se recuperado, mas vejo que me enganei. Quantas vezes ela me disse que não ficava em paz quando estava só! A tristeza era sua companhia, perto dos outros ela fugia de uma aura negra que a cobria, mas sozinha, vinha um anjo negro fazer-lhe companhia!

A dor apertava o peito de Carlos. As dúvidas dilaceravam sua mente. E se tivesse se declaro a ela naquela noite mudaria o rumo das coisas? Se tivesse dito o quanto ela era importante e especial pra ele? Se tivesse ouvido mais sua amiga... Mas nada responderia suas questões.

E no velório, ao lado do caixão, ele cantava baixinho:
“Quem vai saber o que você sentiu?
Quem vai saber o que você pensou?
Quem vai dizer agora o que eu não fiz?
Como explicar pra você o que eu quis?”