sexta-feira, 22 de agosto de 2008

AQUELE OLHAR


Aquela já era a segunda semana de aulas da faculdade. Daiene e sua amiga Carol tinham combinado de fazerem juntas uma cadeira naquele semestre, e estavam muito felizes por conta disso. Já depois da aula ter começado, entra na sala um amigo de Carol, Guilherme, que senta-se próximo a elas. Daiene mal fita-o, um sujeito comum, aparentemente simpático.

Já na outra semana, Daiene chega uns minutinhos atrasada, e encontra sua amiga sentada na classe com o rapaz. Senta-se na frente deles, onde podia se virar e conversar um pouco com sua estimada colega. Troca algumas palavras com Guilherme, mas nada demais. Estava muito feliz, pois finalmente tinha conseguido um estágio.

Suas aulas com Carol e o amigo dela eram nas segundas-feiras. Durante a semana Guilherme havia lhe mandado um convite para lhe aceitar como amigo no orkut, o que ela fez sem maiores problemas. Mas ele começou a deixar vários recados, todos simples, comuns, mas que deixara seu noivo um pouco enciumado.

Na semana seguinte ela chega cedo e senta-se com sua amiga. Guilherme chega um pouco mais tarde, e senta-se a frente delas. Ele puxa conversa com Daiene, que escrevia distraidamente. Mas ao fitar Guilherme, ele a olha fixamente dentro de seus olhos, que chega a causar-lhe um arrepio. Aquele rapaz tinha um olhar forte, intenso, penetrante. Não era bonito, mas feio também não o era, não tinha nada que chamasse a atenção, a não ser aquele olhar. Durante a aula ele tinha lhe lançado mais alguns daqueles olhares. Não era um olhar encarando, “secando”, mas penetrante, parece que ele a hipnotizava. Era um olhar ávido, mas não era explícito, deixava apenas subentendido.

Durante a semana ela se pegou pensando algumas vezes naquele olhar. Não entendia o que estava acontecendo. Amava muito seu noivo, nesses dois anos de relacionamento nunca se vira pensando em outro, até aquele momento. Não tinha se sentido atraída pelo novo colega, mas aquele olhar lhe tirava do sério, lhe causava calafrios.

Chega segunda-feira, e mais uma aula. Inicialmente ela tenta desviar-se do campo de visão de Guilherme, mas não resiste. E ao mirar-lhe os olhos sentiu uma onda de calor subindo seu corpo. O que era aquilo? Os olhos dele nem eram bonitos. Eram castanhos, normais, mas aquele olhar a petrificava. Sentia-se desejada, cobiçada com voracidade, e aquilo lhe fazia tão bem. Há tempos não se sentia assim, seu noivado era feliz, amavam-se, mas parecia ter caído numa rotina. Aquele cara havia despertado dentro dela uma Daiene que ela parecia ter esquecido. Havia despertado uma garota que queria muito amar e ser amada, mas ser desejada também, sentir-se linda, gostosa, exuberante. Uma garota que queria extrapolar os limites da razão e entregar-se a uma paixão ardente e voraz.

Durante a semana pensou muitas vezes em Guilherme. Desejou que chegasse logo o dia de estudarem juntos. Chegou a imaginá-lo quando estava com seu noivo. Repreendia-se com isso. O que estava fazendo? Desejando um homem que ela nem conhecia? Não sabia seu caráter, suas intenções, absolutamente nada dele! Nem sabia se ela estava afim de ter alguma coisa com ela ou só fazia isso para deixá-la confusa. Estava traindo, mesmo que em pensamento, seu noivo, que tanto a amava e já tinha dado provas disso?

Essas questões lhe perturbaram a semana inteira. Resolveu que segunda-feira falaria com Guilherme e lhe pediria que parasse de fitá-la daquela maneira. Não podia querer nada com um desconhecido, tampouco magoar seu amado. Mas quando estava distraída continuava a imaginar aqueles olhos fixos diante dos seus.

Se os olhos são as janelas da alma, aquele homem tinha o poder de adentrar dentro da sua, de vasculhar e excitar os seus mais íntimos desejos. Tinha o poder de despertar-lhe emoções que ela já havia até esquecido, mas que voltaram com uma veleidade ávida de tornarem-se vivas. Ele incitava nela fantasias que ela nem mesma sabia que as tinha.

Mais uma aula. Desta vez Carol faltara à aula e Guilherme sentou-se ao seu lado. Sem encará-lo, falou que tinha que ter uma conversa séria com ele, no intervalo. Ela ficou sem olhar para ela durante toda a primeira parte da aula. Quando chegou o intervalo foram juntos ao pátio. Lá, sempre desviando seus olhos dos olhos dele, falou que estava incomodada com tal situação, e não queria mais que ele olhasse daquela maneira para ela. Mas ele parecia não estar escutando uma só palavra que ela dizia, e continuava a mirar seus olhos. Ao fitar-lhe por alguns segundos, seu coração disparou. Abateu-lhe de repente uma avassaladora vontade de agarrar aquela cara, tê-lo para si, resistiu um instante, mas então ela, sempre tão pudica, largou a razão de lado e beijou aquele homem com uma intensidade avassaladora, desesperadora. Tinha saído de si. Queria ser possuída ali mesmo, devorada com desejo por aquele desconhecido. Não se contiveram, encontraram uma sala vazia da faculdade, trancaram-se lá dentro e ela não relutou em entregar-se a ele, e se amaram! Se amaram com uma veemência desvairada, alucinada, inconseqüente, como se o mundo fosse acabar naquele momento, nada mais importava naquela hora a não ser aquele anseio de ter um ao outro. Amaram-se como nunca haviam amado antes, uma paixão arrasadora que havia despertado naquele momento e não podia ser contida, controlada, e tampouco queria sê-lo. Apenas viver intensamente aquele momento, sem preocupar-se com as conseqüências daquele ato.


Leandro Luz
22/Agosto/2008

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Há meses ele esperava por essa data: o dia que sua amada Mariana voltaria de seu intercâmbio de seis meses na Inglaterra. Nos três primeiros meses teclavam quase diariamente por horas e horas pela internet, mas nos últimos meses ela estava numa pequena cidadezinha do interior e quase não se falavam mais.

Estava tudo preparado para a volta do seu amor: Comprou o maior e mais belo buquê de flores, preparou um jantar só com seus pratos preferidos, chamou os amigos para festejar, preparou algumas surpresas. Como ela é fã de Wander Wildner, e adora a música “Eu tenho uma camiseta escrita eu te amo”, não teve dúvidas: Mandou fazer uma camiseta com a foto de Mariana e a frase título da música!

Pensou em muitas homenagens, como em contratar músicos para recepcioná-la no aeroporto, espalhar cartazes falando de seu amor pela cidade, entre outras, mas a melhor amiga de Mariana lhe advertiu que não exagerasse para não deixa-la constrangida. Ele concordou, meio a contragosto, mas concordou.

Chegava a hora do desembarque. Paulo não agüentava mais tanta espera, as horas pareciam não andar. Desde que Mariana viajou sua vida mudara radicalmente. Andava triste, cabisbaixo, chorava quase que diariamente de saudades de sua amada. Ele sempre fora muito dependente de Mariana, amava-a excessivamente, baseava sua vida em torno da sua namorada, mas não esperava sofrer tanto na sua ausência. Não tinha ânimo para mais nada, reduzira sua vida a esperar a volta de seu amor.

Finalmente o avião de Mariana pousa no aeroporto. Mais alguns momentos de expectativa, e ela estaria novamente em seus braços. Há seis meses esperava o momento de reencontrá-la! A garota, então, aparece na área de desmbarque. Paulo corre ao seu encontro, junto aos pais dela. Ele espera enquanto Mariana abraça sues pais, chora um pouco ao lado deles. Enfim ela olha para Paulo, que emocionado mostra a camiseta que mandara fazer em homenagem a ela, que dá um sorriso meio amarelado. Ele vai para beijá-la, mas ela lhe oferece o rosto e o abraça. Diz a ele que está um pouco cansada, e que mais tarde quer ter uma conversa com ele.

Paulo, então, percebe que ela está diferente. Que tudo está diferente, que tudo será diferente. Percebe que aquele abraço não era igual aos outros, não era mais um abraço de amantes, mas sim de amigos. Não havia mais calor naquele abraço, apenas frieza e melancolia. Percebe que aquela não era mais a sua Mariana que foi para a Inglaterra, mas uma nova Mariana, mais vivida, mais experiente, com novos conceitos, novos valores, novas ambições e novos modos de ver a vida. Percebe que ele não é mais parte da vida dela. Percebe que sua espera fora em vão.

Seu coração estava partido, rasgado, estraçalhado. Mas o tempo passa, o tempo cura tudo. Paulo sofreu, chorou muito. Mas a vida continua, e ele terá que encontrar um novo amor.