sexta-feira, 22 de agosto de 2008

AQUELE OLHAR


Aquela já era a segunda semana de aulas da faculdade. Daiene e sua amiga Carol tinham combinado de fazerem juntas uma cadeira naquele semestre, e estavam muito felizes por conta disso. Já depois da aula ter começado, entra na sala um amigo de Carol, Guilherme, que senta-se próximo a elas. Daiene mal fita-o, um sujeito comum, aparentemente simpático.

Já na outra semana, Daiene chega uns minutinhos atrasada, e encontra sua amiga sentada na classe com o rapaz. Senta-se na frente deles, onde podia se virar e conversar um pouco com sua estimada colega. Troca algumas palavras com Guilherme, mas nada demais. Estava muito feliz, pois finalmente tinha conseguido um estágio.

Suas aulas com Carol e o amigo dela eram nas segundas-feiras. Durante a semana Guilherme havia lhe mandado um convite para lhe aceitar como amigo no orkut, o que ela fez sem maiores problemas. Mas ele começou a deixar vários recados, todos simples, comuns, mas que deixara seu noivo um pouco enciumado.

Na semana seguinte ela chega cedo e senta-se com sua amiga. Guilherme chega um pouco mais tarde, e senta-se a frente delas. Ele puxa conversa com Daiene, que escrevia distraidamente. Mas ao fitar Guilherme, ele a olha fixamente dentro de seus olhos, que chega a causar-lhe um arrepio. Aquele rapaz tinha um olhar forte, intenso, penetrante. Não era bonito, mas feio também não o era, não tinha nada que chamasse a atenção, a não ser aquele olhar. Durante a aula ele tinha lhe lançado mais alguns daqueles olhares. Não era um olhar encarando, “secando”, mas penetrante, parece que ele a hipnotizava. Era um olhar ávido, mas não era explícito, deixava apenas subentendido.

Durante a semana ela se pegou pensando algumas vezes naquele olhar. Não entendia o que estava acontecendo. Amava muito seu noivo, nesses dois anos de relacionamento nunca se vira pensando em outro, até aquele momento. Não tinha se sentido atraída pelo novo colega, mas aquele olhar lhe tirava do sério, lhe causava calafrios.

Chega segunda-feira, e mais uma aula. Inicialmente ela tenta desviar-se do campo de visão de Guilherme, mas não resiste. E ao mirar-lhe os olhos sentiu uma onda de calor subindo seu corpo. O que era aquilo? Os olhos dele nem eram bonitos. Eram castanhos, normais, mas aquele olhar a petrificava. Sentia-se desejada, cobiçada com voracidade, e aquilo lhe fazia tão bem. Há tempos não se sentia assim, seu noivado era feliz, amavam-se, mas parecia ter caído numa rotina. Aquele cara havia despertado dentro dela uma Daiene que ela parecia ter esquecido. Havia despertado uma garota que queria muito amar e ser amada, mas ser desejada também, sentir-se linda, gostosa, exuberante. Uma garota que queria extrapolar os limites da razão e entregar-se a uma paixão ardente e voraz.

Durante a semana pensou muitas vezes em Guilherme. Desejou que chegasse logo o dia de estudarem juntos. Chegou a imaginá-lo quando estava com seu noivo. Repreendia-se com isso. O que estava fazendo? Desejando um homem que ela nem conhecia? Não sabia seu caráter, suas intenções, absolutamente nada dele! Nem sabia se ela estava afim de ter alguma coisa com ela ou só fazia isso para deixá-la confusa. Estava traindo, mesmo que em pensamento, seu noivo, que tanto a amava e já tinha dado provas disso?

Essas questões lhe perturbaram a semana inteira. Resolveu que segunda-feira falaria com Guilherme e lhe pediria que parasse de fitá-la daquela maneira. Não podia querer nada com um desconhecido, tampouco magoar seu amado. Mas quando estava distraída continuava a imaginar aqueles olhos fixos diante dos seus.

Se os olhos são as janelas da alma, aquele homem tinha o poder de adentrar dentro da sua, de vasculhar e excitar os seus mais íntimos desejos. Tinha o poder de despertar-lhe emoções que ela já havia até esquecido, mas que voltaram com uma veleidade ávida de tornarem-se vivas. Ele incitava nela fantasias que ela nem mesma sabia que as tinha.

Mais uma aula. Desta vez Carol faltara à aula e Guilherme sentou-se ao seu lado. Sem encará-lo, falou que tinha que ter uma conversa séria com ele, no intervalo. Ela ficou sem olhar para ela durante toda a primeira parte da aula. Quando chegou o intervalo foram juntos ao pátio. Lá, sempre desviando seus olhos dos olhos dele, falou que estava incomodada com tal situação, e não queria mais que ele olhasse daquela maneira para ela. Mas ele parecia não estar escutando uma só palavra que ela dizia, e continuava a mirar seus olhos. Ao fitar-lhe por alguns segundos, seu coração disparou. Abateu-lhe de repente uma avassaladora vontade de agarrar aquela cara, tê-lo para si, resistiu um instante, mas então ela, sempre tão pudica, largou a razão de lado e beijou aquele homem com uma intensidade avassaladora, desesperadora. Tinha saído de si. Queria ser possuída ali mesmo, devorada com desejo por aquele desconhecido. Não se contiveram, encontraram uma sala vazia da faculdade, trancaram-se lá dentro e ela não relutou em entregar-se a ele, e se amaram! Se amaram com uma veemência desvairada, alucinada, inconseqüente, como se o mundo fosse acabar naquele momento, nada mais importava naquela hora a não ser aquele anseio de ter um ao outro. Amaram-se como nunca haviam amado antes, uma paixão arrasadora que havia despertado naquele momento e não podia ser contida, controlada, e tampouco queria sê-lo. Apenas viver intensamente aquele momento, sem preocupar-se com as conseqüências daquele ato.


Leandro Luz
22/Agosto/2008

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Há meses ele esperava por essa data: o dia que sua amada Mariana voltaria de seu intercâmbio de seis meses na Inglaterra. Nos três primeiros meses teclavam quase diariamente por horas e horas pela internet, mas nos últimos meses ela estava numa pequena cidadezinha do interior e quase não se falavam mais.

Estava tudo preparado para a volta do seu amor: Comprou o maior e mais belo buquê de flores, preparou um jantar só com seus pratos preferidos, chamou os amigos para festejar, preparou algumas surpresas. Como ela é fã de Wander Wildner, e adora a música “Eu tenho uma camiseta escrita eu te amo”, não teve dúvidas: Mandou fazer uma camiseta com a foto de Mariana e a frase título da música!

Pensou em muitas homenagens, como em contratar músicos para recepcioná-la no aeroporto, espalhar cartazes falando de seu amor pela cidade, entre outras, mas a melhor amiga de Mariana lhe advertiu que não exagerasse para não deixa-la constrangida. Ele concordou, meio a contragosto, mas concordou.

Chegava a hora do desembarque. Paulo não agüentava mais tanta espera, as horas pareciam não andar. Desde que Mariana viajou sua vida mudara radicalmente. Andava triste, cabisbaixo, chorava quase que diariamente de saudades de sua amada. Ele sempre fora muito dependente de Mariana, amava-a excessivamente, baseava sua vida em torno da sua namorada, mas não esperava sofrer tanto na sua ausência. Não tinha ânimo para mais nada, reduzira sua vida a esperar a volta de seu amor.

Finalmente o avião de Mariana pousa no aeroporto. Mais alguns momentos de expectativa, e ela estaria novamente em seus braços. Há seis meses esperava o momento de reencontrá-la! A garota, então, aparece na área de desmbarque. Paulo corre ao seu encontro, junto aos pais dela. Ele espera enquanto Mariana abraça sues pais, chora um pouco ao lado deles. Enfim ela olha para Paulo, que emocionado mostra a camiseta que mandara fazer em homenagem a ela, que dá um sorriso meio amarelado. Ele vai para beijá-la, mas ela lhe oferece o rosto e o abraça. Diz a ele que está um pouco cansada, e que mais tarde quer ter uma conversa com ele.

Paulo, então, percebe que ela está diferente. Que tudo está diferente, que tudo será diferente. Percebe que aquele abraço não era igual aos outros, não era mais um abraço de amantes, mas sim de amigos. Não havia mais calor naquele abraço, apenas frieza e melancolia. Percebe que aquela não era mais a sua Mariana que foi para a Inglaterra, mas uma nova Mariana, mais vivida, mais experiente, com novos conceitos, novos valores, novas ambições e novos modos de ver a vida. Percebe que ele não é mais parte da vida dela. Percebe que sua espera fora em vão.

Seu coração estava partido, rasgado, estraçalhado. Mas o tempo passa, o tempo cura tudo. Paulo sofreu, chorou muito. Mas a vida continua, e ele terá que encontrar um novo amor.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

HISTÓRIAS...


Renato era um cara quieto, tímido, poucas palavras. Por isso tinha alguns problemas com garotas, pois não conseguia se aproximar delas, puxar uma conversa. Quando ia a festas com seus amigos, invariavelmente sempre ficava com as garotas mais feias, ou aquelas que no final da festa ainda não tinham ficado com ninguém, isso quando ficava com alguém, por que na maioria das vezes ficava sozinho. Às vezes dava sorte, quando a garota tomava a iniciativa, mas eram ocasiões raras.

Seus amigos riam dele, por causa dessa situação. Diziam que nunca viram Renato com uma guria bonita. No máximo, diziam eles, uma “meia-boca”.

Nesse fim-se-semana Renato e seus amigos saíram para mais uma festa, numa cidade que ficava há uns 200km da sua. Mas essa festa seria diferente. Alguma coisa mudara em Renato, ele sabia que nessa noite ele encontraria a gata da sua vida, a garota que faria com que seus amigos ficassem embasbacados com a sua beleza. Nunca mais esses amigos ririam dele, pelo contrário, por causa dela, o respeitariam para sempre.

Ele não sabia por que estava com essa idéia fixa na cabeça. Algo em sua mente dizia que essa seria uma noite inesquecível, que encontraria a mulher que marcaria para sempre sua vida.

Chegam, finalmente, na danceteria. Começo de festa, ele dá algumas voltas pelo local, analisando as gurias. Qual delas seria sua naquela noite?

A noite avançava, seus amigos já começavam a flertar e ficar com as gurias, e ele nada. Mas não se abateu, aquela noite seria diferente. O relógio já marcava três horas, e nada. Resolveu partir para a ação. Se aproximou de um grupo de garotas que dançavam. Ele não sabia dançar, mas ficou próximo a elas tentando simular algo que lembrasse uma dança. Escolheu uma, a mais bela, e resolveu se aproximar dela, afinal, o que poderia acontecer? Aproximou-se e disse que queria falar com ela, a garota olhou para ele e não deu muita atenção. Renato, então, chegou ao ouvido dela e disse que tinha a achado linda e queria ficar com ela. A garota vira-se para ele, olha fixo nos seus olhos e diz em alto e bom som: “Que isso cara, te conheço? Não vou ficar contigo, sai daqui!”.

Todos em volta olharam para ele. Queria que abrisse um buraco no chão para que pudesse sumir dali naquele momento. Enrubesceu, e saiu imediatamente dali.

Deu mais umas voltas pelo local, mas agora não tinha mais coragem de chegar em ninguém. Sua barreira psicológica, agora, era intransponível. Não conseguiria chegar em mais nenhuma garota.

Seus amigos todos já estavam acompanhados. Já eram quase seis horas, horário que seu ônibus partiria, seria mais uma noite triste. De repente começou no clube o tradicional banho de espuma. Como Renato não tinha mais nada a perder, entrou no banho de espuma, que começou a derramar em abundância. Deu uma volta e deu-se de frente com duas garotas, uma lindíssima, a garota mais bela que já tinha visto, e uma outra bem feinha. Não teve dúvidas, resolveu tentar alguma coisa com a feinha, pois estava traumatizado com o tratamento que recebera da última garota bonita, se bem que aquela, apesar de muito bonita não chegava aos pés dessa que estava a sua frente agora.

A espuma começou a derramar cada vez mais forte, quase não se enxergava mais nada. Chegou perto de onde estavam as garotas, tentou falar alguma coisa mas não conseguiu. Resolveu, então, pegar a garota pela mão. Não conseguia ver a garota perfeitamente, mas sabia que era a mão daquelas garotas que estavam a sua frente. Ela deixou-se ficar com a mão dada, quando Renato sentiu-se confiante. Puxou a garota para perto de si e lascou-lhe um tremendo beijo. E foi um beijo delicioso, delirante em meio às espumas que tomavam conta da pista.

Após um longo beijo, a garota, irritada com tanta espuma, convida Renato para sair de onde estavam. Eles saem da pista e a garota seca os olhos. Renato olha para ela e se assusta! Estava com a garota linda! Apavorou-se, pensou que quando a garota o visse não iria mais querer ficar com ele. Convidou-a para voltar para a espuma, mas ela recusou. Quando terminou de secar seus olhos fitou Renato, que tremia por dentro. Não acreditava que iria perder uma garota tão linda quanto ela, pois não esperava que tão bela mulher quisesse ficar com ele. Mas após os segundos em que fitou-o, ela voltou a beijá-lo. E repetiram isso diversas vezes.

Mas já eram quase seis horas, seus amigos passavam por ele e diziam para ele ir para o ônibus, mas não sem antes se admirarem da formosura de Lourdes, como se chamava a garota. Renato não conseguia separar-se dela, tinha um beijo tão doce, uma pele tão macia... a cada beijo viajavam por galáxias distantes, sentia-se no céu. Não conseguia acreditar que tinha encontrado a garota dos seus sonhos.

Conversaram bastante, estava rolando uma grande atração entre eles. Mas agora eram as amigas de Lourdes que a chamavam para ir embora. Ela anotou seu telefone num pedaço de papel e entregou a Renato, pedindo-lhe que ligasse a tarde, para se encontrarem de novo. É claro que ele ligaria, era tudo o que ele queria, vê-la de novo, pro resto de sua vida. Lourdes disse que morava na cidade da danceteria, mas raramente ia lá. Morava num bairro distante, não tinha e-mail e tampouco orkut ou msn. Tudo bem, pensou Renato, tenho o seu telefone. E num caliente e inesquecível beijo Lourdes se foi.

Renato olhou o relógio, tinha perdido o ônibus. Aquele ônibus ia direto para sua cidade, mas perdendo ele teria que pegar agora três ônibus para chegar em casa. Mas nada importava naquele momento, somente a lembrança dos beijos doces, do rosto angelical, da tez macia e do corpo perfeito de Lourdes. Pôs o telefone dela no bolso e voltou mais um momento para debaixo da espuma, tentando relembrar os minutos que estivera com sua meiga Lourdes.

Quando chegou em casa, já eram quase dez horas da manhã. Dormiria pouco, pois a tarde veria Lourdes outra vez. Entrou no seu quarto e pegou uma roupa para ir tomar um banho antes de dormir. Levou a mão no bolso para pegar o telefone de sua amada, e eis que deu-se a surpresa! O papel com o telefone se desintegrou, se desmanchou. Só pode ter sido na hora que voltou para a espuma. Não podia acreditar naquilo, o único meio de contato que teria com sua musa tinha se esfarelado em seu bolso. Rogou maldições aos quatro ventos. Que mundo injusto, na primeira vez que tinha se dado bem, o mundo lhe passa uma rasteira.

Renato voltou centenas de vezes a mesma danceteria, mas nunca mais encontrou Lourdes. Nem ao menos uma de suas amigas ele encontrara. Tinha encontrado a garota mais linda que já tinha visto, a garota que marcou sua vida, mas deixou-a escapar.

terça-feira, 27 de maio de 2008

PRA VER SE EU CONSEGUIA DIZER QUE TE AMO

Inspirado na música homônima dos Replicantes


Fizemos um show muito legal essa noite, bacana mesmo. E lá do palco eu via ela. Júlia. Linda, linda. Grande fã da minha banda, rockeira ao extremo!!! Dança todas as nossas músicas, sabe todas de cor. É amiga da Raffaella, namorada do vocalista da banda, o Katarrera.

Júlia, esse nome, essa garota não me sai da mente. Sempre nos ensaios ela está lá, e eu admirando sua beleza. Todas as minhas letras de amor são inspiradas nela, espero contar-lhe isso um dia. Quando faço meus solos de guitarra fecho os olhos e imagino que estamos somente nós dois nesse salão, nesse palco. Mas o meu problema, meu grande problema é que não consigo dizer o quanto a amo. Acho que ela não tem namorado, pois está sempre sozinha, mas não consigo me aproximar dela.

Ao final do show de hoje tomamos aquela tradicional cervejada pós show, e conversando com o Tonelada, baterista da banda, acabei deixar escapando que sou apaixonado pela Júlia, pois até então só meus cadernos de rascunho sabiam desse meu amor platônico. E o Tonelada disse que amanhã ele e sua garota, mais o Katarrera e a Raffa iriam a um barzinho, e Júlia estaria lá, sozinha. No começo recusei a idéia, por medo, sei lá. Mas como eu já tinha tomado todas, estava pra lá de chapado ele me convenceu fácil.

Acordei numa puta ressaca. Passei o dia todo deitado com a cabeça estourando. Mas hoje era a grande noite, hoje confessaria meu amor a Júlia. Hoje faria mais uma canção inspirada nela. Como estava muito mal tomei um pó de guaraná pra me recuperar. Essa noite tinha que ser perfeita.

Estava chegando a hora do encontro. Tomei um banho caprichado, comprei o xampu mais caro, pois como sou punk lavo os cabelos só com sabão mesmo, quando os lavo. Vesti minha melhor roupa, hoje é a noite, hoje eu ganho essa garota.

Chegando no barzinho encontro os malucos, o Katarrerra e o Tonelada com suas garotas, mas e Júlia, onde estaria? Cumprimento a todos, mas não pergunto pela garota, no mínimo ela tinha desistido. Até que a Raffaella me pergunta:
- Não estás sentindo falta de ninguém?
-Não sei, acho que estamos todos, não?
Eles riem de mim.
-Não te faz, o Tonelada contou que tu estás afim da Jú. Ela está aqui, só foi buscar uma cerva pra nós!
-Ah, que bom...-respondo com aquele sorriso amarelo, totalmente sem graça.
-Ela está na mão, já trovei ela pra ti! É só chegar nela! Não falei que tu estás apaixonado, mas deixei a entender! Só não vai beber demais hoje né?
-Não, não! Não vou tomar quase nada hoje.

Então chega ela. Mais linda do que nunca. Me diz um “oi” com um lindo sorriso nos lábios. Meu coração dispara. Seria hoje que aquela garota seria minha. Olho nos olhos de Júlia e ela me encara, fico gelado. Então os dois casais levantam-se:
-Nós vamos jogar um bilhar, enquanto vocês conversam...
Eles saem da mesa. Júlia não percebe, mas eles saem do bar, foram embora. Ficaríamos sós a noite inteira...

Chego em casa as seis horas da manhã. Que noite. Ligo meu toca-discos e como a primeira coisa que encontro na geladeira, pois estou morto de fome. Pego meu caderninho, e componho mais uma letra, outra vez inspirado em Júlia, de tudo que queria lhe dizer e na nossa noite:


Agora eu vo me confessar
Tomei um pó de guaraná
Pra ver se eu conseguia dizer que te amo


Confesso já não posso mais
Até nem me chapei de mais
Pra ver se eu conseguia dizer que te amo


Tomei um banho poderoso
Vesti um pano furioso
Pra ver se eu conseguia dizer que te amo


Usei até xampu de erva
Te convidei pruma cerva
Pra ver se eu conseguia dizer que te amo


Eu vo pra casa ouvi um tango
Matar aquele arroz com frango
Depois eu vo fuma uma ponta
Na bronha eu vo passa da conta


Pra esquecer que eu vou morrer
Pra esquecer que eu vou morrer
Sem conseguir dizer que te amo

sexta-feira, 9 de maio de 2008

DesEncontros


Finalmente chegou o grande dia! Depois de alguns meses de intensas conversas via msn e alguns raros telefonemas, ela finalmente concordou em lhe conhecer. Viu algumas poucas fotos dela, mas parecia ser muito bonita. Moreninha, olhos castanhos, cabelo lisinho, corpinho em forma, muito simpática, pelo menos virtualmente. Estava louco para conhecê-la.


Irinélson marcou de se encontrar com a garota da internet no shopping e depois iriam a um cinema. Chegou 20 minutos antes do combinado, sentou num dos bancos no local marcado e começou a angustiante espera. Tentava imaginar como seria o encontro. O que conversaríam? Já sabia o que ela gostava de escutar, os lugares que ela costumava ir, seus filmes preferidos. Já tinham teclado sobre todos esses assuntos, mas para não correr o risco de ficar sem assunto com a menina recorreria a eles. Mas o quye mais lhe afligia era uma dúvida cruel, ou melhor, duas: Como e quando “chegar”na guria? Analisava qual seria o melhor momento para tal. Pensava: “Num bate-papo antes de entrar no cinema? Ou já lá dentro, no escurinho, pouco antes de começar o filme? Ou seria melhor no meio do filme, durante alguma cena romântica? Quem sabe depois do filme, naquela voltinha básica pós-filme dentro do shopping? E se ela não quisesse ficar no primeiro encontro? E se ela não gostar de mim? E se ela não vier pensando em ficar comigo, quiser só me conhecer, e ser minha amiga?”. Resolveu parar de pensar nisso e deixar rolar, ver o que iria acontecer.


Olha o relógio, passaram-se apenas cinco minutos desde que chegara lá, mas parecia que tinham se passado horas e horas. Milhares de dúvidas em sua mente: “Que filme vamos ver? Pipoca doce ou salgada? Refrigerante ou suco? Que roupa será que ela vai estar? Sou direto com ela, digo logo que quero beija-la ou vou envolvendo-a?” Sua mente não aquietava-se. Dúvidas, angústias. Como é difícil um encontro, ainda mais quando não se conhece a pessoa. “Como devo tratá-la? Devo ser mais brincalhão ou mais sério? Mas e se ela me achar um palhaço abobado ou um chato certinho? Devo falar sobre estudos? Mas ela vai achar que eu sou um nerd! E se ela for nerd? E se ela for uma chata? E se ela for uma maníaca e quiser me assassinar, ou me seqüestrar?” Viajava com suas idéias.


Consulta outra vez o relógio, míseros três minutos se passaram, sete ao total. Ainda restavam treze. Aquela espera lhe torturava. De repente no banco ao lado senta-se uma moreninha, inacreditavelmente linda. Parecia-se com a garota que ele esperava: morena, olhos castanhos, mas o rosto era diferente das fotos e o cabelo dessa era encaracolado. Além disso ela sabia que ele estaria de calça jeans azul, uma camiseta verde e tênis. Não tinha como a garota não reconhecê-lo. Pensou em dar um toque no celular, mas logo desistiu da idéia, ficou com medo de que ela achasse que ele estava a pressionando.


Os minutos teimavam em não passar. Ainda faltavam dez minutos para o horário combinado. Olha para a guria ao lado. Ela também devia estar esperando alguém, pois olhava seguidamente para os lados, consultava o relógio, mexia no celular. Começou a imaginar quem deixaria uma linda garota como aquela esperando. Ela devia estar esperando por uma amiga, pois homem nenhum nesse mundo teria coragem de deixar uma beldade como ela esperando, pensava ele. Aqueles cachinhos nos cabelos, uma covinha no rosto, chegou a torcer para que aquela fosse a garota que ele esperava. Ela tinha um ar de independência, admirava mulheres assim. Usava uma blusinha de alça preta, um jeans, tênis all-star. Ouvia um mp3 Player enquanto esperava.


Passaram-se os dez minutos e nada. E vieram mais cinco, mais dez e nada. Cada vez mais achava que era a garota ao lado que ele esperava, ou pelo menos torcia para que fosse. Resolveu então ligar. Caixa de mensagem, estava desligado. A garota ao lado mexia no celular, não podia ser ela mesmo. Mas percebeu que ela também estava ficando impaciente. Resolveu esperar mais cinco minutos, depois iria embora. Já estava irritado pelo provável “bolo” que tinha tomado. Passaram-se os cinco minutos, estava certo de que ele e a sua companheira de espera tinham perdido o encontro. Resolveu ir puxar conversa com ela. Mas o medo o impediu. Voltaram as antigas dúvidas: como puxar assunto, o que falar?


Percebeu que ela também já estava irritada, e já devia estar indo embora. Era essa a hora, agora ou nunca. Mas as pernas tremiam, o coração pulsava descontroladamente. Nunca que uma mulher daquelas daria bola para ele, ela era estupidamente linda. Deviam ter a mesma idade, analisou. Quantos homens deviam correr atrás dela? Quantos a disputavam? Porque logo ele conseguiria conquista-la?

Nisso ela olha mais uma vez o relógio, mexe na bolsa, parece que desistira da espera. Era agora ou nunca. Lembrou-se de um louco amigo que tem como filosofia de vida “Nem pensa, só vai!”. E foi!


-Olá, tudo bem?
- Tudo. Responde ela.
-Eu estou esperando por uma menina, Camila, seria você por acaso?
-Não, não sou eu.
-Ah, que pena.
Ela achou graça, riu. Ela não acreditou no que tinha falado, na verdade não tinha nem acreditado que estava falando com ela.
-Desculpa, mal-educado eu sou, nem me apresentei... (Odiava dizer seu nome, mas tinha que se apresentar a garota, só torcia para que ela não risse dele)... meu nome é Irinélson!
-Prazer, eu sou Penny Lane!
Ele riu. Depois ficou revoltado com sua estupidez, mas achou o nome estranho demais.
-Penny Lane? Estranho né, diferente...
-É de uma música, dos Beatles, conhece né?
-Ah, Beatles, sim claro, quem não conhece né?
Ele não conhecia. Já ouvira falar, mas nunca tinha ouvido uma música deles. Só sabia que era a banda do Jonh Lennon. Ou será que este era vocalista dos Rolling Stones?


Conversaram por um tempo. Irinélson não acreditava que tinha encontrado coragem para puxar conversa com ela, e não acreditava que ela tinha dado conversa para ele. Convidou-a para assistir um filme, já que estavam na frente do cinema mesmo. Lane, como ela disse que seus amigos a chamavam, aceitou. Contou que estava esperando um cara que ela tinha ficado numa festa, mas ele não apareceu.


Irinélson estava radiante, iria assistir um filme na companhia da garota mais linda que ele já conhecera. Mas logo vieram mais dúvidas afligir sua mente. Não poderia desperdiçar aquele momento, tinha que beijar aquela garota, não poderia perder aquela oportunidade. Mas como faze-lo? Voltaram todas aquelas dúvidas sobre como e onde abordar a garota. Estava encantado, agora não mais só com sua beleza, mas com sua inteligência. A garota falava até francês! Estava doido por ela. Mas não podia vacilar. Temia que falasse alguma coisa idiota, e que a guria desistisse dele.

Entraram na fila do cinema. Havia uns três casais na sua frente. Achou estranho o fato de ter apenas casais na fila. Mas não comentou nada. Conforme a fila andava, ela percebeu que os casais se beijavam na frente do caixa, o que achou mais estranho ainda. Penny Lane não percebeu esse fato, pois estava de costas pra bilheteria, falando ao garoto sobre sua vida.


Quando então chegaram no guichê, a atendente pergunta:
- Vão participar da promoção?
-Que promoção? –pergunta ele.
-A promoção do beijo. Se vocês se beijarem pagam meio-ingresso.
-Bem...hã... não sei...
E olha para Penny Lane. Desde que ela sentou-se no banco ao seu lao só o que ele pensava era em beija-la, tê-la em seus braços. E depois que fez amizade com a garota estava aflito imaginado como faria para conseguir. De que maneira ele a seduziria? Como faria para conquistar aquela Deusa? E vem a caixa fazer essa pergunta, seu coração quase saia pela boca, o que dizer nessa hora? O que Lane pensava disso? Não estava preparado para essa pergunta, não sabia o que fazer...
Ela, ouvindo a pergunta da atendente, e vendo que Irinélson fitava-a incrédulo da pergunta e sem saber o que responder, diz a atendente:
-Ah sim, pode ser!
-Mas tem que ser um beijão! – diz a moça.
-Claro!- diz Lanne.

E beijaram-se. E foi um beijão. E Irinélson estava radiante. Não se continha de tanta alegria. O mundo poderia terminar naquele momento. Ele poderia morrer, que morreria feliz. Era o homem mais feliz do mundo naquele momento, e mais sortudo também. Estava realizado. Que mulher era aquela? Independente, inteligente, linda, maravilhosa, e estava em seus braços.

Eles se beijaram aquele dia. E muitas outras vezes mais. E estão juntos até hoje.

E Irinélson atualmente é um dos maiores fãs de Beatles do Brasil.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

HISTÓRIAS...

Carlos e Andréia eram grandes amigos, e certo dia resolveram fazer um curso de teatro. Ele tinha passado algumas tragédias em sua vida, e esse curso era uma forma de tentar reanimar sua vida, que há alguns anos andava meio vazia e pacata.

Passado algumas semanas depois de começar o curso, Andréia conta a Carlos que traria uma amiga sua para o curso também. Ela tinha depressão e tentou até suicidar-se, mas agora estava tentando dar a volta por cima. “Bah, eu passei por dramas e nunca nem pensei em suicídio, se essa guria já tentou isso deve ser aquelas garotas super pra baixo, baixo astral, mimadas, que não se valorizam e não deve ter nenhum amigo também” pensou Carlos, mas não comenta nada com sua amiga.

Na outra semana Andréia chega acompanhada de sua amiga Caroline. Para surpresa de todos, e, principalmente, de Carlos, a garota é extremamente alegre, descontraída e exuberantemente linda. A espontaneidade da garota conquista a todos do curso, e, diferentemente das previsões dele, Carol, como todos passaram a chamá-la, logo se enturmou e fez amizade com todos.

Carlos pergunta a Andréia se aquela era realmente a amiga que ela tinha se referido, pois não podia acreditar que uma garota “descolada” como aquela poderia ter alguma depressão. Porém Andréia lhe adverte que é a menina que ela falou sim, mas era para ele não se enganar com as aparências, pois apesar dela passar essa imagem de bem com a vida aquilo era só uma máscara, uma fuga da realidade, pois quando estava sozinha ela era triste e deprimida. Ele aceitou a explicação da amiga, mas era difícil de acreditar.

Na semana seguinte novamente estava a turma de teatro reunida, e Carlos cada vez se impressionando mais com a simpatia da garota. Ficou impressionado, pois na sua segunda aula ela já era popular e amiga de todos da turma, enquanto ele, que nem tímido era, estava há algumas semanas e tinha feito pouco mais de quatro ou cinco amizades. Naquele dia foi escolhida uma peça que o grupo representaria, e Carlos acabou com um personagem que fazia par com Carol, fato esse que lhe deixou imensamente feliz.

Mas nos ensaios o rapaz se sai mal, ao contrário de Carol, que recebeu vários elogios. Após os ensaios Andréia convida Carlos para ir com ela e mais Carol num barzinho, ao que ele topa. No local as garotas pedem refrigerantes enquanto Carlos pede uma cerveja, ele estranha o fato de sua amiga Andréia pedir a bebida, sabendo que ela gosta muito de uma cerveja, mas resolve não comentar nada sobre o assunto, pois certamente ela não estava bebendo por causa da companhia da Carol.

No meio da conversa eles falam sobre o curso, e como ele se saiu mal, ao que Carol se dispõe a ajudar o novo amigo, pois percebe que ele tem dificuldade de se soltar em cena e de decorar as falas. Claro que ele aceita a ajuda na hora, e fica super contente com o convite. Andréia, que conhecia muito bem os dois começa a analisá-los, e começa a perceber que repentinamente começa a surgir um clima entre os dois, o que a deixava feliz, pois adorava ambos, e sabia que eles tinham um passado difícil, e se acontecesse uma relação entre eles, um poderia ajudar ao outro.

Após alguns ensaios Carlos já estava se saindo muito melhor, reflexo das ajudas da garota. Aos poucos ia surgindo um sentimento por aquela mulher. A princípio ele tentou relutar contra isso, tendo em vista seus traumas antigos, mas aquilo era mais forte que ele. Confessou a Andréia, que já suspeitava. Relatou a amiga que tinha medo, pois talvez estivesse se enganando, pois ela nunca demonstrara se estava sentindo algo ou não, que ela era simpática com todo mundo e ele poderia estar confundindo as coisas, e estragaria uma amizade muito legal que crescia cada vez mais. Andréia respondeu que só o que ela poderia fazer era motivá-lo a ir em frente e declarar a Carolina sobre seus sentimentos, ao que Carlos recusa, ao menos temporariamente.

A cada ensaio a dúvida do sentimento se dispersava cada vez mais. Só o que restava saber era se aquela atração era recíproca ou não. Ela era gentil, carinhosa, atenciosa com todos, será q ele não estava levando as coisas para um lado errado? Mas como Andréia lhe dizia não adiantava ficar se remoendo em dúvidas, só tinha uma maneira de resolver essa questão. Mas ele adiava a decisão de declarar-se.

As semanas passaram-se e chegava a data da apresentação, e conseqüentemente o fim do curso. Andréia pressiona Carlos para declarar-se logo, antes que apareça outro cara e fique com ela. Ele então resolve: Depois da apresentação, numa festinha que eles fariam, ele declararia seu amor!

Na véspera da apresentação foi feito o último ensaio, e após todos foram para um barzinho. Tudo corria normalmente, mas Andréia chama Carlos de canto e lhe diz que estava preocupada, pois Carol parecia estar diferente naquela noite. Ele comenta que não reparou nada, ela parece estar como sempre, pois estava sempre rindo e alegrando a todos, dançando e, como sempre, maravilhosamente linda. Mas Andréia diz:
- Não sei, seu sorriso está estranho, parece lhe ferir!
Carlos acha estranho o que Andréia diz, mas ela se preocupa demais, sempre vê alguma coisa onde não existe nada. Ela concorda, pode ser, mas o pressiona para declarar-se naquela noite, para que esperar mais um dia? Mas ele resiste, amanhã vai ser o dia !

Chega o dia da apresentação, finalmente. Carlos está lá, nervosíssimo. A maioria do elenco já está no teatro, mas nem sinal da carol. Ele liga para Andréia, que já estava a caminho e pede pra ela passar no apartamento da Carol, senão ela iria se atrasar. Andréia tenta inutilmente ligar para o celular da amiga, e vai até a casa dela.

Mais demora, Carlos já não se agüenta mais. Nem era pela apresentação seu nervosismo, mais por ser o dia de declarar seu amor! Já sofrera tanto nessa vida, relembrou seus pais assassinados na sua frente quando ainda era uma criança, sua noiva que tanto amava, e que morreu num terrível acidente de trânsito causado por um imbecil alcoolizado filhinho de papai que saía de uma festa. Mas depois de muitos anos voltara a se apaixonar, seu coração parecia ter se acalmado novamente e se entregue ao amor de uma linda mulher. Hoje seria o dia de um recomeço, de uma volta a vida.

Carlos olha para a entrada do teatro e vê Andréia, em lágrimas. Mas ele nem percebe isso, só pensa em Carol:
-E aí, cadê a Carol?? Olha a hora, estamos atrasados !!! Se ela não vier eu mato ela...
-Você não vai precisar matá-la, ela já fez isso! Ela suicidou-se!
Ele olha para sua amiga incrédulo, e mesmo entendendo o que ela disse pergunta:
-O quê? Como assim “suicidou-se”?? O que tu queres dizer??
- Exatamente o que eu disse, suicidou-se!!! Dizia, aos prantos.
-Mas como? Quando ? Porque ?
-Ninguém sabe por quê. Fui no apartamento dela agora e a encontrei lá...

Carlos explode em lágrimas, seu coração parece querer saltar de seu peito.
-Alguém matou ela! Foi o ex dela, aquele...
-Ninguém a matou, Carlos, ela própria tirou-lhe a vida! Cortou os pulsos...

Aquelas palavras, aqueles fatos, eram navalhas que atravessavam seu corpo, trituravam seu coração. Não sabia o que pensar, o que fazer, o que dizer. Só sentia uma dor torrencial em seu peito. O mundo parecia lhe desabar sobre a cabeça naquele momento. Outra vez a tragédia lhe batia a porta, lhe visitava. Arrependia-se de tudo o que não fez. Execrava-se a si mesmo. Que diabólica maldição trazia consigo, que fazia com que as pessoas que ele amava viessem a morrer?

-A culpa é minha, Andréia!-dizia a sua amiga. – Se eu tivesse dito a ela...talvez...
-Ninguém é culpado, Carlos! Ninguém sabe nem nunca saberá o que se passou na sua cabeça, o que estava sentindo, do que estava fugindo...
-Como pode?? Ela sempre rindo, sempre alegre, sempre feliz?
-Lembra do que eu te disse? Essa alegria dela era só um escudo para se proteger do mundo e de si mesma. Era uma defesa dela mesma! Eu pensei que ela tinha melhorado, se recuperado, mas vejo que me enganei. Quantas vezes ela me disse que não ficava em paz quando estava só! A tristeza era sua companhia, perto dos outros ela fugia de uma aura negra que a cobria, mas sozinha, vinha um anjo negro fazer-lhe companhia!

A dor apertava o peito de Carlos. As dúvidas dilaceravam sua mente. E se tivesse se declaro a ela naquela noite mudaria o rumo das coisas? Se tivesse dito o quanto ela era importante e especial pra ele? Se tivesse ouvido mais sua amiga... Mas nada responderia suas questões.

E no velório, ao lado do caixão, ele cantava baixinho:
“Quem vai saber o que você sentiu?
Quem vai saber o que você pensou?
Quem vai dizer agora o que eu não fiz?
Como explicar pra você o que eu quis?”

segunda-feira, 24 de março de 2008

HISTÓRIAS DO KARA- 1

O KARA, de pensamento abstrato, conversa com A GAROTA, de pensamento lógico:

- Estou lendo Jack Keroauc. – Diz ele

- Estás gostando ?

- Muito! Estou nos primeiros capítulos mas já estou pensando em fazer o que o Bob Dylan disse que fez ao ler esse livro!

- O que ele disse que fez?

- Leu o livro e fugiu de casa!

- ( Risos ) Idiota ! Tu moras sozinho !

- GAROTA – diz o KARA – O problema de quem estuda exatas é esse, tem o pensamento exato. Quando digo que quero fugir de casa, na verdade estou dizendo que quero fugir da vida que levo, da minha rotina. Quero fugir da mediocridade em que vivo, do meu trabalho, onde sou subordinado a um tolo idiota e imbecil que pensa que o mundo gira em torno dele e de seus funcionários que fazem tudo o que ele ordena de cabeça baixa e sem questionamentos, e ainda agradecem pelo salário miserável que recebem achando que isso é um favor que recebem! Quero fugir desse mundinho de aparências de uma sociedade hipócrita que dita o que é certo e errado, mas que na verdade tem medo de tentar ser feliz e medo de quem a desafia. Essa sociedade tem medo de quem tenta ser feliz do seu jeito, e por isso a recrimina, e a isola. Nos querem todos iguais, todos fantoches calados que fingem ser felizes. E que a felicidade está em produtos X, Y ou Z, e se você não os comprarem nunca atingirá a felicidade. Quero fugir de mim mesmo, do meu comodismo, dos meus preconceitos, dos meus medos, das minhas limitações que eu mesmo me imponho.

A GAROTA pensa um pouco e, sem entender nada, diz:

- Bah, é bom mesmo esse livro, né?